Publicado em: 27/06/2024 17:36:00
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Foto: Reprodução/Internet
*Por Rodrigo Bouyer
Muito se fala, hoje, sobre o investimento em tecnologia. Pululam por aí
temas que estão relacionados à economia global. E este setor pertence a este
escopo de ideias, há mais de quatro décadas. O Japão tem se destacado como um
dos maiores países do mundo neste âmbito e em outros. Talvez porque há um tipo
de pensamento na Ásia que lhes permite projetar o espectro de suas nações na
esfera mundial em um longo prazo. Qual caminho o Brasil precisa percorrer para
se tornar uma potência na produção e industrialização desse recurso?
Não é à toa que o Japão, China, EUA e Índia destinam as suas verbas à
geração e manutenção desse segmento. O Brasil é um país dependente
economicamente. Não há no território nacional uma indústria própria que produza
tecnologia, como o Google, o Chat GPT, Instagram e Facebook. Há por aí filiais
espalhadas aos montes. Mas não um lugar cuja competência seja específica e
autóctone. Tudo isso é importado. Necessita-se de um projeto de nação cujo
nascedouro seja a educação.
No Japão, a tecnologia faz parte de um projeto que está imiscuído em
todas as instâncias públicas e privadas da sociedade. Por lá, há colaboração e
aproximação entre indústrias, empresas, universidades, compondo o orçamento das
instituições – inclusive, das públicas.
Todas têm, nos seus respectivos orçamentos, investimentos da iniciativa
privada. Promovem-se, assim, a formação de mão de obra qualificada e o
desenvolvimento de pesquisas e inovações. Existe uma consciência de que as
universidades existem para ser propulsoras da economia. Este fato é tão
presente quanto natural, portanto, não causa espanto aos nativos o fato de as
empresas aplicarem capital em áreas estratégicas da educação. O conceito de
ensino como mero certificador de algum tipo de saber, sim, lhes parece
estranho.
O Ministério da Educação japonês quer ampliar a oferta dos cursos de
tecnologia da informação, implementando-os em todas as carreiras
universitárias. Isto significa que consideram relevante, estrutural e
economicamente, aumentar a formação de profissionais de TI e de engenharias.
Obviamente, não devemos copiar o modelo japonês. Mas com certeza temos
uma lição a aprender com a circunstância. Promover incentivos em setores
específicos reforça a possibilidade de haver por estas plagas um projeto de
desenvolvimento. Quem detém o saber de algo, de certa maneira, o domina.
O governo federal precisa olhar sistematicamente para o que o país
precisa. Não dá mais para gerir este ramo (educação) com miopia. Assim, somente
alguns poucos grupos empresariais que tenham foco em programas pontuais de
efeitos restritos, porém de impactos midiáticos, se beneficiam. O Brasil
precisa de planejamento para demonstrar quais são as suas pretensões para o
futuro neste mundo digital e globalizado. O setor das IES deve atuar para
ajudar a sustentar critérios que fomentem a soberania nacional. As adversidades
vivenciadas nas últimas décadas precisam ser definitivamente encaradas.
Quando se observa o ranking das maiores economias globais, o Brasil é o
que menos parece investir, planejar ou mesmo se preocupar com este universo.
Lembremos que esta é uma alternativa a qual tende a alinhar nosso futuro com um
projeto de nação. O agronegócio, o minério e o setor financeiro não podem ser
os únicos meios pelos quais o Brasil produz suas riquezas. A institucionalização
de regras e instrumentação política dar-nos-ão recursos para poder gerar
oportunidades e mão de obra qualificada para o trabalho que precisamos
encetar.
Defendo, além disto, que deve haver a proposição e a aprovação de uma
lei que permita haver dedução do imposto de renda de pessoas físicas e de
empresas em favor das instituições de ensino superior; transformar-se-ia tal
restituição em bolsa de estudos; em qualificação profissional; em pesquisas que
se proponham a resolver problemas locais; e em extensões comunitárias de apoio
às estruturas governamentais. O direcionamento de uma pequena parte do IR para
uma (IES) ou instituição comunitária de ensino superior (ICES) que seja
conhecida, de confiança e que realiza trabalhos verificáveis parece muito mais
razoável do que o destinar (o imposto de renda) a investimentos que desconheço
e não posso fiscalizar.
Isso já ocorre com projetos que trabalham com crianças e adolescentes
carentes; com a cultura e com o audiovisual; e com reciclagem. Por que, afinal,
com a educação isto é imbricado? Este não é um sendeiro a ser explorado,
tampouco desbravado, absolutamente. Mas para que tal fato ocorra é necessário
que haja vontade política.
*Rodrigo Bouyer, avaliador do Inep e Sócio da Somos Young
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