*Por Roberto Jorge Sahium
Várias corporaturas briosas abrilhantaram a história do Tocantins. Hoje, ao repetir o passo a passo da história do Pirarucu, o único Rei tocantinense, firmo as ideias em um tributo que acredito ser justo, correto e democrático, a mim confiada e descrevida pelo Véio Tapuia.
Sabedor eu, que acolá nos confins Ocidental da Amazonia Legal, tem gente que vai dar birra e bater os pés para o contraditório para dizerem que esta fabula fora erigida num arcaísmo de pescador. Mas garanto que esmerei na trama e apreciei de fio a pavio a prosa do Véio, vi mais licitudes nos vocábulos, de um Torrãozeiro sem escrita, do que nas ditas e benditas histórias oficiais do Tocantins e do Brasil.
Então! Bora para a história do Véio Tapuia.
Assim, num paraíso (Édem) dentro de uma depressão colossal, maior que a Terra Prometida de Canaã, viviam os valentes e brigões guerreiros que deram origem ao povo Iny. Prova disso é a Geologia, a História e as veritudes contadas pelo Senhor Tapuia.
Dizendo Tapuia, que Pirarucu era um jovem guerreiro, justo enão partilhava das crueldades da sua gente. Sempre pronto a ajudar os vulneráveis da sua nação, atitudes, que formigou uma imensa política de má querência, ciúmes e muita invídia entre os guerreiros, sendo que os grandes acontecimentos deste povo, era definido em combates, ora guerras, inclusive com baixas.
Tupã, Rei dos Reis, não partilhava desta política, furioso pelas atrocidades praticadas pelo seu povo, resolveu castiga-los. Encomendou à deusa das chuvas e tempestades a Juruá-Açu, um imenso temporal, com trovões de rasgar os céus, ventos e redemoinhos de arrancar Camaçaris, Canjeranas e Landis inteiros, deixando até mesmo Nhanderuvuçu de queixo caído.
Os inimigos do Pirarucu, agitaram e criaram narrativas, fizeram proselitismo nas aldeias, persuadiram o Cacique, dizendo que, para ocorrer o estancamento das chuvas, teriam que sacrificar o Pirarucu e as pessoas protegidas por ele.
Os oponentes conseguiram uma CPI na Comissão de Punição dos Indígenas, formada pelos amigos dos inimigos do Pirarucu, apoiados globalmente pelo Sistema Tribal dos Feiticeiros-STF e aceito pelo Cacique, que autorizou o movimento democrático pegar o Pirarucu.
Sequestrado eaprisionado na mata o Guerreiro Pirarucu forasurrado até seu corpo perder os sentidos. Neste ajuizamento inteiramente democrático, amarrado numa moita de tucum, usaram em seu corpo varas-de-piranheira, cabo de caraíba, cipó-de-jurema. Na cabeça, por ser muito argucioso, bateram com pedra-de-fogo, achatando-a.
Iara, deusa das águas e das chuvas, ainda muito jovem, irmã caçula de Juruá-Açu, vê tudo aquilo e com muita compaixão do pobre moribundo o arrastou para um fio d´água e lá num afundado, o tocou com uma varinha-de-bambu-milagroso, demudando-o num imenso peixe. No prosseguimento Iara aplicou-lhe curativos feitos com óleo de Podói que guarda em seus princípios ativos propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes e analgésicas, e nas partes mais penitenciadas, cabeça e o flanco genital, usou unguento ferroso de pasta da pedra-canga, beladona e barbatimão. Enfaixou com fibra de bananeira, e para as machucaduras interiores deu para beber vinho de jatobá com arnica.
Nisso as tempestades demudaram para dilúvio. Serra do Estrondo desliza, a depressão colossal engolindo tudo que era de pedra, terra, paus e águas e lá nas profundezas Pirarucu de caráter nobre, não guardou mágoa. Agora, um peixe de corpo avermelhado pelo unguento de pedras oxidadas do primitivo cerrado, com robustas e potentes nadadeiras propulsoras, cabeça de torpedo moldadas pelas batidas com pedra-de-fogo e fornido com dois aparelhos respiratórios.
Pirarucu, todas as vezes que subia para respirar nasuperfície fora da água, trazia consigo do abismo os animais, as plantas e alguns viventes Iny. Fez isto por muito, mas, muitos anos.
Lá pelas bandas do Oriente, Noé em sua barca, salvou um casal de cada vivente da região, do diluvio, citado em Gênesis 6-12[1][2] e assim como no Alcorão.
Após o dilúvio o barro sedimentou e a grande depressão se transformou numa savana de topografia muito plana, uma das maiores planícies inundáveis do Mundo, conhecida por vale do Rio Araguaia, lugar sagrado pelos Índios Javaés que a denominam por Iny òlòna, o lugar de onde surgiram ou saíram de baixo os humanos, ou Ijata òlòna, o lugar de onde surgiram as bananeiras.
Atualmente Ijata òlòna abriga um dos maiores projetos irrigados do Brasil e também a fonte d´água que Pirarucu vez oca, o Ribeirão do Pirarucu, em homenagem ao grande feitio do peixe-guerreiro. Este local é situado na divisa dos municípios de Figueirópolis com Formoso do Araguaia, aqui no Estado do Tocantins.
Pirarucu inquieto não serenou, resolve ganhar uma parte do mundo, submergindo nos rios Formoso, Javaés, Tocantins e numa cochilada das pororocas subiu o Rio Amazonas afora, adentrando Pará, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá e Peru.
Mas antes de ganhar estas águas amazônicas, Pirarucu, parou uns dias nos lagos do Mamão e Sorrocam, ambos dentro da Ilha do Bananal, onde povoou, também deixou raça nos lagos Escondido do Domingos Pereira, no Lago do Butelo na Capiaba, na Lagoa Bonita em Dueré e no Lago da Pedra em Pium procriou, no Cantão por uns tempos morou.
Por volta de 1.822 nestas nadanças todas, encontra Georges Cuvier – naturalista e zoólogo francês, que o batizou de Arapaima gigas.
O Pirarucu, a despeito de aparecer museólogo e ao mesmo tempo domar a inteligência natural, por se tratar de uma criatura que passou por inúmeras curvas do túnel do tempo, cruzando vários espinhais pendurados pelas mudanças climáticas, ajuíza ser peixe obstinado a perpetuação da espécie, e com isto está preparado para continuar atravessando o túnel das mudanças climáticas e o do aquecimento global.
Em relação às mudanças climáticas, que envolvem fenômenos naturais como possível diminuição das aguadas de qualidades, comprometidas pela baixa taxa de oxigênio e pH, altas temperaturas e altas concorrências de habitats. Pirarucu vem trabalhando nisso milhões de anos, desenvolvendo instintos fisiológicos incríveis: come o que gosta e o que não gosta, pela sua dimensão possui um estomago pequeno, possuindo uma digestibilidade fantástica. Apresenta movimentos rápidos quando precisa, queixo duro que parece uma bigorna para combater os desafetos, caso seja provocado, respira dentro d´água e fora d´água. Tem hábitos de formarem casais no período da seca, sobrevém quando nas primeiras trovoadas, as enxurradas entrando nos minguados e barrentos lagos, acende no Pirarucu um estimulo de procriação para o perpetuamento da casta e assim a fecundação ocorre em ninhos no fundo arenoso das águas rasas.
Quanto ao aquecimento global, refere-se mais especificamente ao aumento médio da temperatura na superfície da terra, nisso o Pirarucu vai topar uma chaleira infernal, mas em relação a outros peixes tropicais se sairá melhor, por tolerar temperaturas de até 37º C e no mais Pirarucu foi professor do senhor da guerra.
Diante dos desafios das mudanças climáticas e o aquecimento global a piscicultura é a importante ferramenta para perpetuação e ao mesmo tempo tira-lo de uma lista de risco de extinção. Todavia, para dar uma d´mão a esse Rei na produção de descendentes para atender às necessidades precisamos também de uma d´mão do São Francisco, o Santo padroeiro dos animais, inclusive os das águas, clarear as cabeças de nossos pesquisadores. Primeiro, para terem empatias com peixes e segundo se equiparem com humildade de reconhecer que a reprodução artificial de Pirarucu não caminhou o suficiente, e ter simplicidade para obter sabedoria dos torrãozeiros, inclusive para diminuir custos, pois, dizendo os pesquisadores, os investimentos tecnológicos estão insuficientes e de forma condizentes engasga os afazeres e andamento das pesquisas.
Todos sabemos que o dinheiro arrecadado pelo Grande Cofre Nacional, primeiro, é para inundar as contas afogadas dos Poseidons ou Deuses que tomaram de assalto a Praça dos Três Poderes (executivo federal, legislativo e judiciário) de Brasília, transformada em uma espécie de Vaticano do Brasil, congregando aí um dos maiores PIB mundial. O que sobra disso tudo vão para as contas não essenciais, que só o povo do Vaticano sabe quem são.
Mas continuo acreditando nos pesquisadores esparramadas por todo o território da Amazônia Legal, vão trazer respostas concretas acerca do andamento das investigações sobre o Pirarucu, o ilustre e importante Arapaima gigas e Rei do Tocantins. Mas tem que ser rápido esta resposta, porque em nome de salvar a piscicultura já introduziram a tilápia, o panga, as carpas, bagre-africano e logo virão outros como o peixe-tigre. Enquanto isso excelentes peixes brasileiros para produção de carne estão sendo levados principalmente para os países de onde estão vindo estes peixes introduzidos na Amazônia Legal. Aí temos a África, Ásia, Oriente Médio e outros.
Ah! Só para curar a curiosidade de muitos, Tupã querendo redimir da besteira cometida, fez da costela do Pirarucu Macho a Pirarucu Fêmea, não do rabo para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual, debaixo da nadadeira lateral, para ser protegida e do lado do coração para ser amada e juntos sem ativismo de gênero, Pirarucu Macho sua parceira a Pirarucu Fêmea estarão nadando pelo resto da vida.
Inté pra nóis.
*Roberto Jorge Sahium é Engenheiro Agrônomo, extensionista raiz e Imortal da Academia de Letras da Extensão Rural Brasileira, e da Academia Tocantinense do Agronegócio, encontra-se projetista agroambiental autônomo.