*Por Henrique Matthiesen
O ato terrorista praticado pelo bolsonarista Francisco Wanderley Luiz, no último dia 13 de novembro em frente a sede do Supremo Tribunal Federal, em Brasília-DF, descortina, mais uma vez, o perigo que o extremismo de direita representa às instituições e à sociedade brasileira.
É importante ressaltar que a morte do terrorista e sua ação não são fatos isolados de um tresloucado, mas o resultado do germinar do ódio e da pregação contínua de um grupo político marginal que não aceita a vontade soberana do povo. Este grupo tem um chefe, um líder e é de conhecimento de todos.
Dentre as manifestações de repúdio e indignação, o presidente do STF, vítima da ação, indagou:
– “Onde foi que o brasileiro se perdeu neste mundo de ódio, intolerância e golpismo? Onde foi que nós perdemos a luz da nossa alma afetuosa, alegre e fraterna para a escuridão do ódio, da agressividade e da violência”?
A resposta que o ministro Luís Roberto Barroso procura exige uma retrospectiva honesta, na qual encontraremos inúmeros corresponsáveis por abrir as portas para o extremismo que se instalou no Brasil.
O primeiro diagnóstico requer a compreensão das características de nossa classe dominanteque éescravocrata, antipatriótica, violenta, atrasada, subordinada às elites internacionais, falsa moralista, hipócrita e dependente do Estado para a manutenção de seus próprios privilégios.
Esta classe dominante cujas características aqui apontadas são sustentadas pelo poderio de uma espécie de Partido único, que o saudoso Leonel Brizola identificava como o monopólio da mídia brasileira — representado por veículos como a Globo, a Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, a revista Veja, entre outros.
Este movimento teve início com inúmeras ações que contrariaram os interesses de nossa classe dominante subordinada aos interesses externos.
Podemos citar como exemplos a descoberta do pré-sal, o fortalecimento do BRICs e a criação de seu banco próprio, a Comissão da Verdade, ou seja, o ousar soberano do Brasil. Estes avanços, inaceitáveis para tais interesses, já nos penalizaram em outros momentos históricos, como o golpe de 1964, com as digitais dos interesses internacionais escandalosas e este mesmo padrão se repetiu com o golpe contra Dilma Rousseff.
O modus operandi deste movimento foi uma implacável campanha pela criminalização da política e do próprio Estado. A isso somou-se a velha tática do falso moralismo no combate à corrupção, protagonizada pela chamada República de Curitiba, que, apoiada pelo Partido único – o monopólio midiático –, pela Avenida Faria Lima e até mesmo pelo sistema judiciário, incluindo o STF, que devastou nossas empresas e a política nacional.
Este movimento que germinou silenciosamente e de forma irresponsável fomentou o extremismo e o ódio no Brasil, em alinhamento com uma estratégia internacional de radicalização política. O problema é que, embora tenha obtido sucesso no desmonte do Estado e na criminalização de setores políticos importantes, fracassou em viabilizar seu candidato à Presidência. Restou, então, apenas a grotesca opção representada por Jair Bolsonaro, germinado no baixo clero da política, que ao provar o mel do suposto poder, quis se lambuzar e se perpetuar. Em sua busca pelo controle levou a criminalização hipócrita da política à sua continuidade e virou-se contra aqueles que o auxiliaram em sua empreitada.
O movimento golpista liderado por Jair unificou parte de nossa sociedade em torno das bandeiras da democracia e da defesa do Estado de Direito — alguns por convicção, outros por mero oportunismo – já que nunca foram realmente fiéis a estes princípios. Acabaram, também, por se tornar vítimas de suas próprias ações.
Esta é uma parte do germinar do ódio e da falta de civilidade sobre o qual o ministro Barroso questionou.
Agora, cabe-nos a coragem de tampar este bueiro malcheiroso e asqueroso do extremismo e do golpismo no Brasil. Nada, absolutamente nadade anistia ou abrandamento de penas. É preciso coragem para punir os grandes chefes do golpismo no Brasil.
Prender e condenar os pequenos envolvidos é importante, mas prender e condenar generais, almirantes, brigadeiros, empresários e um ex-presidente é fundamental. Só assim combateremos verdadeiramente o extremismo.
*Henrique Matthiesen é Formado em Direito e Pós-graduado em Sociologia