A escassez de profissionais médicos no Norte brasileiro é visível nos números oficiais. Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) mostram que a região tem a menor proporção de médicos por mil habitantes (1,73) do país, bem abaixo da média nacional de 2,81. O Tocantins, com 2,78 médicos por mil habitantes, ainda enfrenta um segundo desafio: 57% dos médicos atuantes no estado não possuem Registro de Qualificação de Especialista (RQE), de acordo com informações do estudo Demografia Médica 2023.
A má distribuição das escolas médicas no território brasileiro contribui para acentuar as desigualdades regionais. A maior parte das vagas de Medicina está concentrada no Sudeste (43% das vagas), enquanto o Norte possui apenas 9% do total. Essa distorção limita o acesso à formação e, consequentemente, desestimula a permanência de médicos na própria região. Neste contexto de carências e desequilíbrios, o surgimento de novos cursos de Medicina é de fundamental importância para o atendimento da população carente.
Para a vice-presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado do Tocantins (COSEMS-TO), Anna Crystina Mota, formar profissionais na região fortalece a saúde pública local: “Precisamos que esses futuros médicos se formem e tenham interesse em permanecer no Estado, criando vínculos com as equipes e com as comunidades, prestando uma assistência resolutiva e, sobretudo, humanizada a todos os tocantinenses”.
A vice-presidente do COSEMS-TO elogia a iniciativa da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), que abriu um curso de Medicina em Palmas. “Acredito que este será o melhor curso de Medicina do Estado do Tocantins, pois temos a oportunidade de formar profissionais na perspectiva de fazer internato e integração em todos os municípios”, destaca a gestora.
Fortalecimento da saúde pública
Com atuação estratégica voltada à formação de médicos capacitados para atender o Sistema Único de Saúde (SUS), o curso de Medicina da Ulbra Palmas tem se consolidado como um importante aliado no fortalecimento da saúde pública no Tocantins. A proposta da graduação vai além da técnica: ela busca formar profissionais com perfil humanizado que estejam preparados para atuar em municípios remotos, onde a presença de médicos ainda depende, em grande parte, de programas federais.
“Esse é o principal reforço que buscamos na parceria do poder público com a nossa instituição: um curso de Medicina que vai ao encontro das necessidades da comunidade! Estamos entusiasmados com a possibilidade de trabalharmos juntos em projetos voltados à saúde pública, uma área essencial para todos nós, principalmente no Tocantins. E esse é o nosso principal objetivo: atender a necessidade regional, por meio de parcerias com o poder público, gerando qualidade de vida para a população que mais necessita”, afirmou o diretor da Ulbra Medicina Palmas, Marcelo Müller.
Atendimento às comunidades
Os indígenas e quilombolas estão entre as comunidades mais afetadas pela carência de profissionais médicos. “Temos de andar 20 km para sermos atendidos, para tirar a pressão, para termos um atendimento médico”, desabafa Lení Francisca, coordenadora pedagógica da Comunidade Quilombola do Prata em São Félix do Tocantins. Lení representa uma comunidade com cerca de 320 habitantes e vê na presença da faculdade de Medicina da Ulbra um sopro de esperança: “Nos sentimos agraciadas de estarmos sendo contemplados nessa proposta da Ulbra, de nos ajudar com esse atendimento médico na comunidade, algo que a gente não estava tendo até agora”.
O sentimento de Lení é compartilhado pelo coordenador do Distrito Sanitário Indígena (DSEI), Hará Javaé Haratumá: “Tenho certeza de que, a partir do momento que os nossos indígenas receberem a visita e o atendimento dos futuros médicos, com certeza iremos contribuir, pois faremos um trabalho com amor, compromisso e respeito. E a Ulbra Palmas está de parabéns porque cada dia que passa vem formando profissionais de qualidade. Espero contribuir cada vez mais com essa visita nas aldeias para enfim fortalecer mais esse vínculo”.
E é com esta perspectiva que a Ulbra Medicina Palmas se insere na saúde: uma proposta pedagógica voltada ao SUS conforme a Resolução CFM Nº 2.330/2023, formando profissionais especialistas em Medicina de família e comunidade. O curso investe em práticas em território, com inserção imediata dos acadêmicos nos serviços públicos de saúde e aproximação com as realidades das comunidades tradicionais — como indígenas, quilombolas e ribeirinhas —, preparando médicos mais sensíveis às demandas locais e bem qualificados.
A prefeita de Rio Sono, Valdéia Martins, comemora a parceria com a Ulbra, que tem o objetivo de suprir a carência na área da saúde dos cerca de 5 mil habitantes do município localizado 170 km ao norte de Palmas. “A atenção primária requer muito dos profissionais da saúde, e porque não acreditar em parcerias assim, que prezam por formar profissionais de forma contextual, e não apenas para tratar a doença!? Isso nos traz esperança. Estamos de portas abertas para essa parceria, porque acreditamos nessa construção com as instituições de ensino”, afirma a prefeita.
Compromisso com a saúde pública
Mesmo com avanços na cobertura médica, o Tocantins ainda enfrenta um cenário desafiador. Dos 4.265 médicos registrados no estado, 57% não possuem Registro de Qualificação de Especialista. As especialidades com maior procura continuam sendo pediatria, ginecologia e obstetrícia, clínica médica, cirurgia geral e cardiologia — áreas essenciais para a atenção básica e de média complexidade.
“Neste contexto, a Ulbra Medicina Palmas surge como uma Instituição preparada para reduzir essa disparidade regional de profissionais médicos. Localizado no coração do Tocantins, o curso contribui para democratizar o acesso à formação médica e, principalmente, para que os profissionais criem raízes no estado”, destaca Marcelo Muller, diretor da Ulbra Medicina Palmas.
“A expectativa é que, com o avanço das primeiras turmas da graduação e o fortalecimento das parcerias com o poder público, a Ulbra Palmas reforce ainda mais seu papel como polo formador de médicos comprometidos com o desenvolvimento regional e com a valorização da vida em todas as suas formas, atendendo o anseio das comunidades na área da saúde”, conclui Muller. (Karoliny Santiago/Ulbra Palmas)