Faccionados organizavam homicídios em grupos de aplicativo de mensagens
Publicado em: 03/09/2024 14:36:00
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Foto: Larissa Mendes/Governo do Tocantins
Treze
mandados de prisão preventiva foram cumpridos na manhã desta terça-feira, 3, no
Jardim Aureny IV e na Unidade Penal de Palmas, em desfavor de 13 faccionados
membros de uma organização carioca de renome nacional, que são investigados por
envolvimento em diversos homicídios ocorridos no primeiro semestre de 2023, em
Palmas. Os mandados de prisão foram cumpridos, no âmbito da 4ª fase da Operação
Gotham City, por policiais civis da 1ª Divisão Especializada de Homicídios
e Proteção à Pessoa (DHPP - Palmas), unidade responsável pelas investigações.
Em
entrevista coletiva realizada na Delegacia-geral de Polícia Civil, em Palmas, o
secretário de Estado da Segurança Pública do Tocantins, Wlademir Mota Oliveira;
o delegado-geral Claudemir Luiz Ferreira; e o delegado adjunto da 1ª DHPP,
Eduardo Menezes, detalharam o trabalho investigativo realizado até o momento e
que culminou nessas prisões.
“O empenho
dos policiais civis que atuam tanto na DHPP [1ª Divisão Especializada de
Homicídios e Proteção à Pessoa] quanto na inteligência nos possibilitou dar uma
resposta à sociedade. As lideranças foram presas, os números foram caindo ao
ponto de não registrarmos nenhum homicídio em Palmas no mês de janeiro. Nossa
Capital vive um momento bem diferente. Este ano, foram 25 homicídios, apenas
seis ligados à disputa de poder de facção. Em 2023, só em maio foram 25
homicídios. Isso mostra que a população pode confiar no trabalho da Polícia
Civil, que está preparada para investigar os casos e levar os culpados à
Justiça”, destacou o secretário Wlademir Mota Oliveira.
Crime alvo da 4ª fase
Os 13 alvos
da 4ª fase da operação estão ligados à morte de Ayrton Evangelista de Araújo,
motoboy morto no dia 8 de maio após sofrer uma emboscada no local de trabalho,
uma pizzaria no plano diretor sul da Capital. “Durante a investigação,
descobrimos que o monitoramento dos passos da vítima começou ainda na pizzaria.
Quatro soldados da facção rival a de Ayrton chegaram ao estabelecimento e,
passando-se por clientes, chegaram a comprar uma pizza para confirmar a
presença do motoboy no local. Depois do fim do expediente, Ayrton é seguido
pelos marginais a caminho de casa e se torna alvo de uma tocaia”, destacou o
delegado Eduardo Menezes.
J.V.M.A. e
L.G.J.L. foram os responsáveis por certificar se o motoboy estava trabalhando.
Já M.S.S. e R.W.C.S., a bordo de uma motocicleta, perseguiram a vítima após o
expediente, sendo M.S.S. responsável pelos disparos que levaram Ayrton a
óbito.
M.S.S. foi
morto por membros da facção rival, no dia 15 de setembro de 2023, em Gurupi,
após se evadir das dependências do Centro de Internação Provisória da Região
Sul (Ceip/Sul), onde cumpria medida socioeducativa de internação.
A
investigação mostrou ainda que outros dez faccionados: G.G.J.B., D.R.S.,
P.H.M.G., J.L.C., J.R.S.N., A.S.S., T.R.S., H.H.S.N., W.O.C. (Luxúria) e
L.F.M.G. (Beira Lago) também têm envolvimento no crime. Os dois últimos são
líderes da facção e responsáveis por dar a voz de comando e suporte bélico para
a execução do crime. Os demais são responsáveis por apontar Ayrton como sendo o
autor do homicídio de Leonardo Gomes Zapani, membro da facção carioca, morto na
tarde do dia 8 de maio, por um indivíduo a bordo de uma motocicleta, no Jardim
Aureny I. Para eles, Ayrton era o motociclista que atirou em Leonardo e, por
isso, teve sua morte decretada.
“Eles se
mobilizaram para identificar quem foi o autor e, aí, eles identificaram que um
dos suspeitos era o Ayrton. Começaram, então, a se comportar como se fossem
investigadores, recorrendo a câmeras de segurança e pegando informações com
pessoas. Até a análise do local do crime eles foram fazer. Diante do que
colheram, decretaram a morte do Ayrton, consumando o crime na noite do mesmo
dia”, destacou o delegado Eduardo.
Autor intelectual
Durante o
primeiro semestre de 2023, ocorreram mais de 90 homicídios em Palmas, grande
maioria em decorrência da disputa de poder em duas facções de renome nacional.
As investigações apontaram que a onda de crimes teve início quando Dad Charada,
que era membro de uma pequena facção goiana, aliada a uma grande facção
paulista com atuação em todo o território nacional resolveu, em 2023, deixar
sua facção e se aliar à facção carioca, também com atuação em todo o
país.
Luxúria, que
era um dos líderes da facção carioca, apoiou a vinda de Dad Charada para a
organização, iniciando assim, um plano de mortes tendo como alvos integrantes
da facção paulista.
O minucioso
trabalho investigativo evidenciou a efetiva participação de Luxúria nos crimes
cometidos. “Luxúria é a grande liderança responsável por financiar a guerra com
o dinheiro oriundo da venda de drogas que ele gerenciava no Mato Grosso e aqui
no Tocantins. Ele alimentava os soldados com muitas armas e munições”, destacou
o delegado. Atualmente, Luxúria encontra-se preso na Unidade Penal de
Palmas.
Ao longo da
investigação, a DHPP se deparou com dois grupos de aplicativo de mensagens, nos
quais os integrantes organizavam a logística dos homicídios, comemoravam o
sucesso das empreitadas criminosas e debochavam das vítimas. “Estamos há oito
meses analisando, ininterruptamente, dois grupos de WhatsApp criados pela
facção carioca, no qual planejavam os homicídios. Essa análise nos permitiu ver
como eles agiam nesses crimes. Os soldados eram orientados a baixar aplicativos
de geolocalização, porque alguns aplicativos mostram onde viaturas estão
posicionadas. Eles estavam focados em cometer o maior número de homicídios
possível. Com total desrespeito à vida humana, eles faziam questão de postar
vídeos nas redes sociais em perfis fakes criados por eles”, finalizou o
delegado.
Outros homicídios
Além de
Ayrton, durante a coletiva, foram lidos os nomes de mais 20 vítimas de
homicídios, cujos autores estão sendo identificados ao longo das investigações.
As vítimas são: Pedro Duarte e Silva, Kauã Vinícius Lobo Rodrigues, Marcos
Douglas Gomes Freitas, Marcos Vitor Elias Ribeiro, Wender Carvalho Borges,
Victor Gabriel Alves Saraiva dos Santos, Clevis Passos Nunes, Artur Uchôa de
Matos, Wewerton Rodrigues Lima, Geferson Rodrigues Lima, Aladione Araújo,
Jardel Rodrigues Pereira, Ikaro Felipe Santos de Sousa, Ricardo Barra
Guimarães, Wesley Dias Carvalho, Evaldo Rodrigues de Freitas Neto, Diuliam
Marinho Fernandes, Ronildo Alves Dias, Carlos André Costa Martins e Leandro
Ribeiro Nogueira.