Carlesse monta operação de vida ou morte em Brasília

  • 09/Nov/2021 08h20
    Atualizado em: 09/Nov/2021 às 08h22).

*Por Goianyr Barbosa

Quem tiver urgência na contratação de exímios advogados em Brasília, nesta reta de final de ano, daqueles que possuem o condão mágico para fazer a cabeça de ministros das altas cortes do Judiciário, e de absolver até o Diabo, restam, portanto, poucas opções. Segundo noticiou o site da revista Veja, na edição do último dia 03, o governador afastado Mauro Carlesse, na atribulação alucinógena de retornar ao Palácio Araguaia, do qual fora defenestrado pelos magistrados do Superior Tribunal de Justiça (STJ), há poucas semanas, contratou as três principais bancas de advogados do Distrito Federal, os quais, além da habilidade com o Direito, gozam de forte influência junto a magistrados, com forças, em alguns casos, de interferir e modificar decisões já definidas como líquidas e certas à luz do Direito. Já outro veículo de comunicação da República, noticiou que já são cinco a plêiade de notáveis causídicos contratados. Aliás, o otimismo pela volta triunfal de Carlesse é tamanha por parte de seus seguidores, que um ex-secretário dele relatou a um prefeito do Jalapão, que os preparativos à sua volta já começam a ser montados, ou seja, um cardápio com muitas melancias, frangos, cachaça e foguetórios para escurecer os céus do município de São Félix, em caso de vitória.
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Ora, se já não bastasse as bancas milionárias de advogados arrebanhadas, também entrou no circuito salva-mandato uma outra modalidade que desfruta de livre acesso nas referidas cortes, a saber: lobistas, cafetinas e rábulas (sem formação universitária). Por sinal, não é de agora que Brasília se transformou numa Babilônia depravada. Quem percorre as alas e salões luxuosos acarpetadas, refrigerados do Congresso, dos ministérios ou das cortes judiciais e se depara com homens e mulheres com trajes executivos, não imagina que muitos ali atuam em práticas ilícitas. É um verdadeiro tráfico de influência, negociatas com parlamentares, empresários e autoridades graduadas da Justiça, com a finalidade de auferir dinheiro abundante e fácil de clientes desorientados. Portanto, é dentro desse emaranhado de possibilidades que Carlesse se arrisca de corpo e alma, não temendo investir e perder parte do que já amealhou. Ele quer se ver livre do purgatório a que se lançou. Como salientei em artigo anterior, em Brasília tudo é possível, principalmente quando cai em mãos de ministros corruptíveis. No entanto, é fato, há uma sentença divina limpando o planeta das inconsequências humanas; tomara que já tenha chegado por aqui.

Assembleia, cadê o impeachment?

Bem antes de a Polícia Federal jogar as redes no mar de lama e fisgar peixes surfando nas ondas da criminalidade, já era do conhecimento do tocantinense o modus operandi de como o governo vinha agindo em cima de empresários, extorquindo-os nas faturas que tinham a receber. Para muitos, o caso Plansaúde, por exemplo, é epenas uma nesga dentro do fabuloso esquema de arrecadação junto às empresas que prestavam serviço ao governo. Paralelamente, a decisão do governador de fazer mudanças na Polícia Civil, transferindo todos os delegados que trabalhavam nas investigações envolvendo autoridades do Executivo e do Legislativo, revelou cristalinamente que o governo temia o curso investigatório, haja vista que as suspeitas eram de que a corrupção nascia de dentro do Palácio Araguaia. Na ocasião, o Sindicato dos Delegados repudiou a decisão do governador de colocar freio nos avanços investigatórios. Tal atitude ganhou repercussão na mídia nacional. O temor do governador foi tanto que, em seguida, decretou a extinção da Delegacia especializada no combate à corrupção, criando uma diretoria morta, ligada ao seu gabinete. Em resumo, a passagem do delegado da Polícia Federal Cristiano Barbosa, no cargo de secretário da Segurança Pública foi, a meu ver, a mais desastrosa entre os que já assumiram aquele posto.

Nesse front de batalha judicial que o caso Carlesse agora se envereda, bem que o parlamento tocantinense poderia exercer o seu sagrado papel de avocar para si os fundamentos estabelecidos na Constituição estadual, especificado no Art. 41 e seus incisos. De acordo com o parágrafo primeiro do supra artigo, são necessários dois terços dos deputados estaduais para aprovar o pedido de impeachment. Para um conhecido assessor parlamentar da Assembleia, dificilmente se alcançaria esses votos no momento, porquanto o staff do governador afastado liga diariamente aos deputados, com pressão psicológica, garantindo a sua volta certeira e breve. No mesmo artigo, no parágrafo segundo, reza que o governador ficará suspenso de suas funções quando “ocorrer crimes de responsabilidade, após a instrução do processo pela Assembleia Legislativa”. Pergunta-se: um governante pode ser considerado inocente, quando uma Corte Especial de um Tribunal, formada por um colegiado de 11 ministros resolve afastá-lo, por chefiar e integrar uma organização criminosa, acusada de desviar milhões do Tesouro estadual? E mais: acompanhado por um conjunto de 280 policiais federais. A bola está com vocês, deputados!

*Goianyr Barbosa é jornalista e consultor político